domingo, 15 de janeiro de 2012

Ella na primeira pessoa



Foi num dia qualquer, em uma hora qualquer que Carlos Alberto me disse a verdade.
"Eu não sou livre Ella..." disse ele, eu já sabia, quer dizer eu desconfiava, e como ele me disse uma vez, desconfiar não é saber.
Acabou, eu que já o odiava passei a o odiar ainda mais, foi uma merda ouvir aquilo da boca dele, preferia ter ficado na ignorância, não dizem por aí que o que os olhos não vêem o coração não sente?
A verdade é que o que mais me doeu não foi a informação em si, foi a mentira, foi a prova de que ele mentia para mim, porque a partir daí tudo tornou-se uma enorme mentira.
Eu queria Carlos Alberto para mim, eu o queria acorrentado na minha cave, o queria numa piscina de ácido sulfúrico, até derreter o ultimo dos seus ossos, e depois beber a sua essência, para que ele fizesse parte de mim.
Eu o odiava, e por o odiar demais, eu o amava, e por o amar demais, eu me afastei, fui viver um novo amor.
Se você entrar num deposito de lixo, mesmo se não se chafurdar no meio do lixo, o cheiro nojento vai ficar pegado na tua pele, assim é Carlos, ele nos arrasta para a lama, mesmo sem o tocar, sem o ver, ele é podre, e a podridão excita, mesmo afastados, sua podridão ainda vivia em mim.
Meu novo amor morava longe de mim, convidou-me para passarmos um fim de semana juntos em sua cidade, eu fui, eram 8 horas de viagem, pensei "o que vou fazer sentada durante 8 horas dentro de um comboio?" a resposta era óbvia, pensar em Carlos Alberto, estava obcecada, nunca tinha transado com Carlos, e o outro me fazia delirar na cama, porque era em Carlos que eu pensava, eram suas mãos que me tocavam, era sua boca que mordiscava meu seio esquerdo do jeito que eu gostava.
Estava sentada no meu lugar do comboio, ouvindo Nina Simone e sentindo os lábios de Carlos no meu pescoço, quando uma voz electrónica avisou que iríamos fazer uma paragem, quando a voz disse o nome da cidade em que estávamos, não respirei, durante 1 segundo não respirei, desci do comboio e sentei-me na esplanada do café da estação, iríamos ficar ali 15 minutos, 15 minutos... o que eu ia fazer nestes 15 minutos? Óbvio...pensar em Carlos Alberto...

Nina Simone cantava:
"He needs me
I ought to leave him, but he needs me
I know that I ain't very bright
Just to tag along
Oh, but right or wrong
I'm his and I'm here
And I'm gonna be his friends or his lover"

Quando uma ideia surgiu na minha mente, ficar ali, ligar para Carlos, estar com ele, mas e o meu novo amor...? Fodasse o meu novo amor.
Fiquei...liguei para Carlos, disse que estava na cidade, iria me hospedar num hotel ao lado da estação, que ele fosse ter comigo, obviamente ele disse que sim.
Uma hora depois, estava num quarto de hotel, vestida com um robe branco, e nua por baixo dele, bateram na porta, era Carlos...
Ele entrou, ficou ali parado a me olhar, não vi nada, só senti a força de sua mão contra a minha face, e o barulho do meu corpo a cair no chão, merecia aquela chapada, sabia porque a tinha levado, eu também havia mentido.
Levantou-me, segurou o meu queixo com as pontas de dois dedos, com força, e me beijou, como eu tinha sonhado com aquele beijo, era melhor do que eu imaginava, sua boca dominava a minha, eu apenas o seguia, mordia o meu lábio inferior e o puxava com os dentes, eu estava a delirar, tirou o meu roupão, deixou cair no chão, deu dois passos para trás e ficou a me olhar, nua, de pé em frente a ele, outra chapada, novamente sabia o porque, a merecia.
O meu corpo parecia estar ligado a uma ficha eléctrica, sentia descargas para todo o lado, era Carlos, me batia e me amava, num ritmo alucinante, como se uma coisa estivesse interligada a outra, me conduzia, levava-me a um lugar onde nunca havia estado...

Nina Simone cantava:

"I put a spell on you
Because you're mine"

Eu estava em cima de Carlos, o sentindo dentro de mim, meu coração batia tão forte, minha pele queimava, havia chegado a hora, sentia Carlos a pulsar dentro de mim, tapei os seus olhos com uma mão, e com a outra agarrei nela, a havia escondido atrás de mim, sob os lençóis.
Já havia treinado para aquele dia, sabia exactamente o que fazer, mirei no seu peito, no coração que Carlos não tinha, disparei duas vezes, um fio fino de sangue derramou de seu peito, se ele sentiu dor eu não sei, porque apenas disse um "oh" abafado, continuei ali, em cima dele, e gozei, ele tinha razão, o sexo não era só carne, tive o orgasmo que tanto desejara, mas ele pertenceu a mim, e não a ele, eu possui Carlos Alberto, mas ele morreu sem saber o que era possuir a mim.
Enfiei um dedo no buraco que a bala fez no seu peito, "agora já sabes o que é ter uma ferida aberta no peito meu amor", e lambi o dedo sujo do sangue dele, sabia bem, sabia a possessão.
Levantei-me, tomei um banho, vesti a minha roupa, antes de me ir embora, dei-lhe um beijo na boca, que ainda estava contorcida de desejo.
Adeus Carlos Alberto, te vejo no Inferno.

Ella

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