segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Um homem chamado Pénis Parte II

Desde pequeno Pénis foi rejeitado pela vida, foi rejeitado pela sua mãe, que queria uma menina e não um rapaz, foi rejeitado pelo seu pai, que segundo sua mãe tinha fugido para a Argentina com uma amante Colombiana, tinha sido rejeitado pela sua avó materna e por todas as mulheres de sua família que o olhavam sempre com cara de que estavam a espera que a qualquer minuto ele as apunhalasse pelas costas.
Quando tinha doze anos, sua mãe, Maria Mulher, lhe contara que havia lhe dado o invulgar nome de "Pénis", para que ele lembrasse sempre que a culpa dos maiores males da humanidade era daquilo que os homens carregavam entre as pernas.
Ele não percebeu na altura, e passou a adolescência toda sem perceber, achava que sua mãe lhe odiava, era a única razão que ele encontrava para ela lhe dar um nome que o desgraçava.
Pênis tinha dezoito anos e ainda era virgem, todos os seus amigos já haviam dado uma queca, ele nem havia chegado aos preliminares, isso porque sempre quando as meninas perguntavam o seu nome, e ele tinha de ser sincero pois sua mãe havia lhe educado muito bem, a resposta tinha sempre o mesmo resultado, a face a arder depois de um tapa, e a menina a fugir a sete pés.
As meninas da escola nem lhe falavam, todos riam e faziam piada do seu nome, as professoras coravam quando eram obrigadas a dizer o seu nome na lista de chamadas.
Uma noite, Pénis estava em pé de frente para o espelho, a observar aquilo que carregava entre as pernas, e tentava entender como "aquilo" era a causa dos grandes males do mundo, era uma coisa tão feia, descaída, nem grande nem pequeno, sinceramente não entendia porque sua mãe odiava tanto aquela coisa.
Com dezoito anos Pénis era um homem desesperado, já não aguentava mais, tinha de dar uma queca, mas todas as vezes que pensava em mentir sobre o seu nome, a voz malvada de sua mãe lhe vinha na cabeça, a dizer que os homens só serviam para fazer as mulher sofrer.
Não queria ser assim, não queria ser como seu pai, não queria ser como todos os homens de sua família, engravidar uma mulher e fugir para a Argentina com uma amante Colombiana, mas valha-me Deus, Pênis precisava dar uma queca.
Havia uma garota, Manuela, frequentava com os pais o restaurante onde ele trabalhava nos fins de semana, era linda, não, era deslumbrante, tinha um sorriso que rasgava a face de orelha a orelha, olhos negros como uma tempestade, e caracóis dourados que chegavam na cintura, e que cintura, mas o que deixava Pénis enlouquecido eram os seios de Manuela, seios de menina moça, seios de uma menina de dezassete anos, seios que faziam Pênis tocar aquilo que carregava entre as pernas, todas as noites antes de dormir.
Já fazia meses que Pénis flertava com Manuela, eram sorrisos ingénuos, e toques propositados nas mãos delicadas da garota, mas ele nunca tinha coragem para ir adiante.
Naquela noite , Manuela tinha ido jantar com os pais como sempre, mas havia algo de diferente nela, a sua roupa estava mais provocante, a sua maquilhagem estava mais carregada, o seu sorriso era mais tentador, ou ele já estava a ficar louco de desejo?
Foi no banheiro molhar a face, contar até dez, tentar voltar a razão, afinal estava condenado pelo seu nome, e nunca poderia haver nada entre ele e Manuela.
Foi quando estava de cabeça baixa, olhos fechados a dizer mentalmente que tinha de esquecer Manuela, que a sentiu a tocar a coisa, não abriu os olhos, sabia que era ela, virou-se de frente para ela e a beijou, sentiu o seu sorriso a tocar os seus lábios, sentiu a sua virgindade quando lhe tocou lá em baixo, sentiu a força de suas pernas quando ela o puxou para dentro dela, quando Pénis sentiu a coisa a jorrar para dentro de Manuela, ficou desesperado, lembrou de quando sua mãe disse que dentro da coisa ele carregava veneno, e que aquele veneno não matava a mulher, mas a transformava num ser amargo e triste, não ele não queria que Manuela, sua doce Manuela se transformasse no monstro que era a sua mãe.
Pénis saiu de dentro de Manuela, a gritar de dor, a dor que estava aprisionada durante dezoito anos em seu peito, a dor de não poder ser como os outros, a dor de ser amaldiçoado pela sua própria mãe, saiu a correr e deixou para trás uma Manuela aos prantos, pois ficou sem entender nada.
Correu, correu, correu, e chegou ao seu destino, a ponte que atravessava o rio de sua cidade, decidiu que a única forma de acabar com a maldição, era matar a coisa, era tirar a sua própria vida.
Pénis chorava, chorava pela sua mãe, pela sua avó, por todas as mulheres do mundo que haviam provado daquele veneno, do veneno que as transformavam em monstros, foi quando uma mão tocou a sua face, num instante achara que era Manuela, ou um anjo que Deus enviara para o salvar da maldição.
Abriu os olhos e ao seu lado estava uma mulher, era parecida com sua mãe, mas não a mãe que ele conhecia, com a mãe que ele via nas fotos quando era jovem, a mãe que ele sempre sonhou que fosse sua.
A mulher estava ali porque também carregava uma maldição, havia sido vendida pela sua mãe quando tinha apenas oito anos de idade, desde então já havia se deitado com todos os tipos de homens, mas nunca havia perdido a esperança de encontrar o homem que a salvaria dos seus pecados e da maldição, isso porque uma vez havia se deitado com um velho feiticeiro, que previu o seu futuro, disse-lhe que um dia tinha de caminhar até a ponte, lá estaria um homem desesperado, ela tinha de lhe tocar da face, e quando ele abrisse os olhos ela teria de lhe dizer o seu nome, e que a partir daí nunca mais estaria sozinha, teria um homem que cuidaria dela até morrer.
E assim o fez.
Quando Pénis abriu os olhos, a mulher sorriu e disse: "Olá, meu nome é Vagina."
Sentado em baixo da ponte, estava um velho feiticeiro, que sorria com os poucos dentes que ainda lhe restavam na boca, e dizia para si mesmo: "porque sempre haverá uma vagina carente para um Pénis desesperado".
Vitória, vitória, acabou-se a história.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Um homem chamado Pénis Parte I

Maria Mulher era filha de mãe solteira, tal como sua avó, bisavó e todas as suas antepassadas.
Mercedes mãe de Mulher, era uma linda mexicana de cabelos negros, que havia imigrado junto com a sua família, para o sul do Brasil nos anos 60.
Foi numa noite quente de verão, que Mercedes conheceu Santiago, um gaúcho dez anos mais velho, e lindo de morrer.
Santiago era um homem apaixonado e possessivo, não aceitava dividir sua Mercedes com quem quer que fosse, nem com um filho, quando disse para Mercedes que não queria ter filhos, o coração dela ficou pequeno temia ter o mesmo destino das suas antepassadas, mas Mercedes amava Santiago ardentemente, abdicou de seu ventre, e durante cinco anos viveu um romance escaldante com seu amado.
Foi numa visita a sua mãe que descobriu, esperava um filho de Santiago, quando voltou para casa encheu-se de coragem e contou a novidade para Santiago, os olhos dele endureceram instantaneamente, mais tarde ela recordaria como ao ouvir uma única frase, aquele homem tornará-se em um estranho.
"O teu corpo é meu!" Dizia ele.
"Santiago pelo amor de Deus, é teu filho, fruto do nosso amor!" Mercedes, desesperada, rogava em vão.
"Não te divido com ninguém Mulher! Tu és minha, no teu corpo ninguém toca, dos teus seios só os meus lábios podem sentir o sabor, ou te livras desta coisa que carregas no ventre, ou eu mato os dois!"
A sentença estava lançada, não havia escolha possível, ou matava o seu filho amado, ou o seu amado matava aos dois.
A noite, ao deitar, Santiago estava amuado do outro lado da cama, ela deitou-se ao seu lado e sussurrou no seu ouvido:
"Amor..."
"Não adianta Mercedes, minha decisão está tomada!"
"Eu sei amor, tens razão, amanhã eu vou bem cedo vou a uma médica na cidade, ouvi dizer que ela mata...faz esse serviço."
"Muito bem eu vou contigo." Respondeu Santiago secamente.
"Não, eu quero fazer isso sozinha, agora seja o meu homem, e faça amor comigo."
"Enquanto essa coisa estiver aí, não lhe toco!"
"Faça de conta que somos só nós, eu te quero tanto..." Disse Mercedes com uma voz suave, enquanto acariciava seu amado.
Santiago não resistiu e tomou Mercedes nos seus braços, naquela noite fizeram amor como na primeira vez, , Mercedes gemia de prazer, e Santiago sentia-se um homem de sorte, por ter sua Mercedes só para si.
De manhã cedo, Santiago ainda dormia quando Mercedes foi para a cidade.
Mas o seu destino não era a tal médica, o que Santiago não sabia era que Mercedes já havia engravidado dele outras três vezes, e em todas havia tirado a criança, com a tal médica, na ultima vez sua vida ficou por um fio, ela sobreviveu, mas a médica disse que se fizesse mais um aborto, não poderia mais ter filhos.
E ela decidiu que se voltasse a engravidar contaria para Santiago, talvez o seu coração amolecesse, e seriam felizes com o seu filho, mas se não houvesse uma mudança, ela teria aquele filho custasse o que custasse.
Na noite anterior, ela soube que Santiago jamais a deixaria ter aquele filho, por isso tomou a decisão que a fez fazer duas paragens na cidade, num feiticeiro e numa bomba de gasolina.
Quando chegou a casa, Santiago lhe ofereceu uma rosa, e disse que tinham de comemorar, Mercedes concordou, mas o fitou com olhos tristes, Santiago a abraçou e disse:
"Não se preocupe Mulher, bastamos nós os dois para sermos felizes, és minha e é assim que tem de ser..."
Mercedes beijou os lábios de Santiago, cheia de vontade, disse que ia preparar uma bebida fresquinha para "comemorar".
Enquanto Santiago esperava na sala, Mercedes tirou da bolsa um saquinho com a erva que o feiticeiro havia preparado, ele lhe prometera que Santiago iria dormir profundamente, não sentiria nenhuma dor, ela confiava nele, como as outras mulheres de sua família um dia também haviam confiado.
Mercedes e Santiago brindaram a morte da "coisa", e fizeram amor, antes dele cair num sono profundo, Mercedes disse:
"Eu te amo meu amor...perdoa-me,"
Mas Santiago mal teve tempo para responder que também a amava.
Mercedes deitava a gasolina sobre o corpo de Santiago, a chorar compulsivamente, e cantava baixinho a velha canção de ninar, que a sua mãe havia lhe cantado um dia.
"Se esta rua, se esta rua fosse minha, eu mandava, eu mandava, ladrilhar com pedrinhas, com pedrinhas de brilhantes, só para o meu, para o meu amor passar..."
Mercedes riscou o fósforo e o atirou na cama, o quarto iluminou-se com a luz do fogo, sentou-se numa cadeira e ficou a olhar, hipnotizada pelo fogo, as chamas consumirem cada centímetro do corpo daquele que outrora foi o grande amor de sua vida.
O feiticeiro tinha razão, ele não sentiu dor...
Continuou a cantar:
"Nesta rua, nesta rua tem um bosque, que se chama, que se chama solidão, dentro dele, dentro dele tem um anjo, que roubou, que roubou meu coração."
No dia seguinte, Mercedes guardou uma parte das cinzas de Santiago, dentro da uma velha caixinha de café, que sua avó lhe tinha oferecido.
Colocou as malas no carro, e a caixinha no banco ao seu lado.
Antes de sair de casa, parou na frente do espelho, com as mãos a tocar a sua barriga, disse:
"Vais te chamar Maria Mulher, para que nunca te esqueças que o grande amor da vida de uma mulher, vem de dentro do seu ventre."

Continua...

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Auto-afirmação de uma louca

Eu nunca fui Caroll...
Quando eu nasci , era enorme, gordinha, boxexuda e cabeluda, já nessa altura, posso apostar, que ninguém chamava-me pelo nome.
Posso até ver aquele monte de parentes, sim porque brasileiro sempre tem UM MONTE DE PARENTES, apertando minhas boxexas, mordendo as minhas dobrinhas das pernas, apertando o meu bumbum a dizer: "olha ela já tem celulite", a me chamar de boxexudinha, ainda chamam, godinha gotosa da mamãe, da vovó, da titia do vovô e etc, hoje como eu já sou grande é gorda mesmo, quindinsinho do papai, ele ainda me chama assim e apertando minhas boxexas, e outros nomesinhos humilhantes, não é a toa que Deus nos deu uma memória curta.
Eu cresci um pouco e virei a esquisita, a enfezada, a Viuvinha, só vestia de preto, a "a D e a B estão tão lindas...ah olá Carolline", sabem aquele lance de chamarem a Aguilera de "a que tem voz"? Eu era a "a que tem personalidade forte", o forte era uma crítica tá.
Um pouquinho de tempo depois "a que é madura demais para sua idade", a sonhadora, a "a vida não é um filme Carolline", a anti social, a esquisita, a estranha, a "essa é menina é maluca, não ela só pode ter algum problema mental", a "não dá para falar mais baixo Carolline!".
Quando tinha 13 anos e meu pai voltou a casar eu virei "a revoltada", a problemática, "a que parece um moleque porque joga futebol e usa roupas largas", quando eu disse um "não to afim" para o garoto mais lindo da escola, eu virei "a sapata, aquela que não gosta de meninos", e quando a directora ligava para minha mãe para dizer que pela milésima vez eu faltei as aulas, ela aparecia na biblioteca do bairro, para onde eu fugia, e interrompia a minha leitura a gritar que eu era "a rebelde sem causa".
Na formatura do 1ºgrau, quando disseram o meu nome a chamar-me para o palco para receber o diploma, eu caminhei com os meus jeans rasgados e a velha camisola do Legião Urbana, com a letra de Faroeste Cabloco escrita atrás, com a turma toda a gritar "Rockeira maluca, rockeira maluca", não era uma crítica tá, eles me adoravam.
E nunca fui Brasileira, uma vez o coreógrafo que nos ensaiou para dançar na festa de 15 anos da minha melhor amiga, disse-me que eu tinha "ancas de brasileira e um jingado de americana", nessa altura não bebia tequila e Shakira não era loira.
Não tinha bunda, pesava uns 50kgs, e tinha uns 10kgs só de peito, não sambava, odiava pagode, funk, costumava colocar a coluna de som tocando Ac/Dc no último volume para implicar com meus vizinhos funkeiros, a cegonha tava podre de bêbada quando me jogou no Rio de Janeiro.
Naquela época a minha mãe pagou 10 reais para um filho de um amigo dela sair comigo, fomos ao cinema, entrei muda e sai calada, hoje ela reclama que eu sou namoradeira.
Em Portugal virei "a Brasileira", e um dia depois de muitos outros dias a ser humilhada por causa do meu sotaque, da minha cara, do meu nariz batatinha, do brasileira tatuado na minha testa, eu a viuvinha, a menina das roupas largas, sai de casa com um jeans que tinha a cintura tão baixa que mais parecia um bikine com pernas, um top rosa com a barriga de fora, o cabelo solto sem esticar, todo enrolado, cheguei no café e disse "aí moça quero um café com leite e um misto quente!", tudo bem que depois tive de traduzir, mas esse foi o momento mais patriota da minha vida, aliás tornei-me patriota.
Toda gente dizia que eu falava "Boa tardi", eu quebrava pau a dizer que eram todos loucos que eu falava "Boa tarde", e um dia estava a assistir a GNT, e começou o RJTV, o jornal regional do Rio, e os apresentadores disseram juntos "Boa tardiiii", foi então que eu virei "a eu não sou Brasileira, sou Carioca", a "Carioquinha Surreal".
Eu já fui furacão, já fui a Shakira lá da zona, e quando cai de moto numa manhã de Julho, virei a "miss perna partida 2006" e quando voltei a andar, a "Coxa".
Mais ou menos nove meses depois de ter feito um teste de farmácia na casa de banho do Algarve Shopping e ter me deparado com um par de linhas roxas, eu virei a "mãe da Isabella", e voltei a ser a Godinha gotosa, porque toda gente te vergonha de dizer-me que eu to gorda pra caralho.
Não eu nunca fui Caroll, quando eu era criança, sonhava em morar em São Francisco, achava que lá só vivia gente diferente, e por isso eram normais.
Hoje em dia eu não vivo em São Francisco, mas São Francisco vive em mim, sabem quando você é a vida toda tratada por "diferente", você aprende a analisar o que é ser normal, ser normal é ser igual, se toda a gente fosse louca, ser louco era ser normal, a maioria é quem decide o que é diferente, o que é que devemos ser.
Ai de quem não segue as regras, ai de quem não veste a pele de "normal" e tem a audácia de discordar do resto da humanidade.
A escritora Tati Bernardi escreveu um conto chamado "A mulher que não prestava", eu o conheço bem, eu sempre fui a mulher que não prestava, mas também sempre fui a mulher que amam ou odeiam, os meus melhores amigos não são loucos como eu, são pessoas normais, gente normal adora ter um louco por perto.
Mas para aqueles que me criticam, me julgam, me condenam, eu pergunto: quando o mundo acabar, quem você quer ao seu lado, a gordinha, rockeira desbocada, que bebe tequila e acha que sabe falar espanhol e dançar igual a shakira, que te dá vontade de a matar morrendo de rir e que quando trepa geme alto e fala palavrão, ou a magrinha bunitinha, perfeitinha, legalsinha, que não bebe, é politicamente correcta e que quando trepa, desculpa ela não trepa, faz amor, é como uma tábua, entra muda e sai calada?
Loucura é não ser eu.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A primeira cicatriz

Eu tinha oito anos, e rolava um boato no meu bairro, que alguem numa Kombi branca andava a sequestrar crianças, na escola, em casa, todos nos alertavam e nos mandavam tomar cuidado.
Toda vez que eu via uma Kombi branca, ficava em alerta, pronta para fugir, sair correndo para o colo do meu pai, enorme, meu herói, que iria me proteger de todos os malvados que existiam no mundo, até aqueles que andavam por aí com uma Kombi branca a levar os filhos para longe de seus pais.
Eu não lembro se era manhã ou noite, não lembro se era verão ou inverno, só lembro de uma Kombi branca parada da frente da minha casa, e o meu pai levou sua bicicleta para dentro dela, e eu pensava: "Como ele vai pedalar com a gente para a cada da minha avó?" e levou o material de desenho, os livros, as roupas, e a cada coisa que ele levava, o meu corpo todo ficava mais em alerta, eu já tinha ouvido falar disso, de pais que iam embora, por fim ele entrou na Kombi branca, e eu entendi.
Eu tinha oito anos, quando uma Kombi branca levou o meu pai embora, e eu levei outros vinte anos para entender que essa foi a primeira ferida aberta no meu peito.