segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A primeira cicatriz

Eu tinha oito anos, e rolava um boato no meu bairro, que alguem numa Kombi branca andava a sequestrar crianças, na escola, em casa, todos nos alertavam e nos mandavam tomar cuidado.
Toda vez que eu via uma Kombi branca, ficava em alerta, pronta para fugir, sair correndo para o colo do meu pai, enorme, meu herói, que iria me proteger de todos os malvados que existiam no mundo, até aqueles que andavam por aí com uma Kombi branca a levar os filhos para longe de seus pais.
Eu não lembro se era manhã ou noite, não lembro se era verão ou inverno, só lembro de uma Kombi branca parada da frente da minha casa, e o meu pai levou sua bicicleta para dentro dela, e eu pensava: "Como ele vai pedalar com a gente para a cada da minha avó?" e levou o material de desenho, os livros, as roupas, e a cada coisa que ele levava, o meu corpo todo ficava mais em alerta, eu já tinha ouvido falar disso, de pais que iam embora, por fim ele entrou na Kombi branca, e eu entendi.
Eu tinha oito anos, quando uma Kombi branca levou o meu pai embora, e eu levei outros vinte anos para entender que essa foi a primeira ferida aberta no meu peito.

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